domingo, 17 de outubro de 2010

Diabos me mordam

Estava entretida com meus pensamentos... Dúvidas e devaneios... Desejos proibidos...
Eis que ele me aparece. Carinha tampinha, formato miniatura, pintado de vermelho vivo, asinhas de morcego e ardendo em brasas.  Ok, pensei. Alucinações agora vão me perturbar?
O bichinho não se conteve e pousou bem no meu ombro esquerdo. Perguntei o que ele queria e ele disse:
- Te encorajar, óbvio.
- Não, meu bem, você não ’tá entendendo... Não posso... Não fará bem pro meu coração... Deixa de ser hipócrita. Você sabe bem.
- Quê isso, gata! Curtição é a melhor parte da vida. Esquece essa culpa. Não te leva a nada. Só te priva de experimentar o que a vida está disponibilizando pra você.
- Tá louco? Pára com isso. Não! Decisão tomada. Vê se não me tenta mais. Já fez o suficiente nos últimos dias...
Ele fechou a cara com minha perseverança e se foi naquela fumacinha clichê. Bobo, pensei. Nem tem originalidade. Que bom que me deixou em paz!
De volta aos meus devaneios e minha tristeza natural, tudo o que eu queria era desejar diferente. Desejar o que mereço e não essas aventuras sem sentido.
Eis que me aparece outro ser intangível... Dessa vez, pensei, vai ser aquele anjinho bacana e vai me ajudar. Já era hora dele aparecer!
Ledo engano... A criaturinha danada nada mais era do que uma menina linda, os cabelos em cachos, em vez de dourados, negros. Os olhos grandes como jabuticabas. Claro que ela também tingiu-se de vermelho rubi e ardia ainda mais que o outro. Pousou no meu ombro direito.
- Oi, flor!
- Quem é você? Cadê o tal do anjinho?
- Que anjinho que nada, gata! Você acha mesmo que é dele que você precisa agora?
- Ah, não brinca! Você veio atasanar a consciência errada... Chegou tarde, seu colega de trabalho já passou por aqui.
- Ih, gata, acorda pra vida! Você não é a Nina? É tu mesmo, flor. Não tem essa de anjo, não. Ele aposentou. E eu vim aqui porque meu poder de sedução é muito maior do que o desse, que você citou aí como meu colega. Já saquei qual’é a tua. Aceita a realidade, linda. Esse é “the point of no return”, sacou?
- Ninguém merece...
- Quê isso? Claro que merece! Todo mundo merece! Vai fundo, gata! Pára de guardar a mulher selvagem que existe em você. Já ‘tá nos seus olhos e nas suas atitudes. O que mais você ‘tá esperando? Olha, vou facilitar pra você, ‘tá? Investe, boba! Bye, bye!!
Piscou o olho pra mim e soltou uma risada moleque. E puff... Sumiu graciosamente. Sem fumacinha dessa vez.
Eu me olhei no espelho... Sorri...

* * *   FU-DEU!   * * *


-Nina

*   *   *

2 comentários:

Lirium disse...

SUPER AMEI O TEXTO!
Instigante, interessante, bem escrito. Fodástico.
Dá vontade de ser mais uma criaturinha de vermelho dizendo: "Uhuu! Vai lá!" rs
Onde eu acho um desses pra me dar conselhos? hehe
Parabéns pelo texto!
beijãozão!

Joaquim Filho disse...

Discolou legal!