sexta-feira, 11 de março de 2011

Ridículas

 "Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Tem de ser 
Ridículas
Quem me dera no tempo em que escrevia 
Sem dar por isso
Cartas de amor 
Ridículas.
Afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram 
Cartas de amor,
É que são 
Ridículas."

Extraído do poema "Todas as Cartas de Amor São"
Álvaro de Campos

*    *    *

Estar só não me basta

Sofro de uma preguiça descomunal agora
Da qual a causa e o efeito ninguém sabe
Pensei que dava conta de encontrar a chave
Que abriria a porta desse cativeiro
Mas só descobri saída quando olhei pra fora
E me vi nos seus olhos por inteiro

Que faço agora pra acreditar nessa história
De que um ser humano só se basta
Se toda a força que descobri em mim
Foi a partir da hora que me vi assim
Apaixonada e entregue nos seus braços
Mergulhada nessa emoção tão vasta

Há anos tento me convencer
De que olhar pra dentro é minha solução
Mas a vida parece não querer
Que eu finalmente aprenda a lição
Ou sou eu que sou tão pobre
Que perdi a aula e perdi a razão
E confundo agora o sentimento mais nobre
Com essa irresistível e desvairada paixão

- Nina

*    *    *

Palhaça

O que esperas que eu te diga?
Queres que eu monte pra ti um cenário?
Posso dizer-te que estou muito feliz
Que tu não pendurastes no cabide nosso amor
Posso dizer-te que aceito tua escolha
Que não criastes em meu peito esse enorme buraco negro

Posso fingir que acredito que me queres
Enganar-me que quando alguém quer alguma coisa,
Deixa mesmo pra depois, como se fosse garantido
Posso fingir que não vi
Que tu preferistes destruir meu coração
Deixar-me no frio, no escuro
E que a verdadeira razão não é desamor
É só pra não machucar sabe Deus quem
Porque cuidar de outro alguém te foi mais importante
Posso fingir que isso não significa nada pra mim

Posso mentir dizendo-te que não sinto nada
Mentir que estarei em paz, te aguardando
Como se eu fosse esse ser humano vazio
Capaz de sentar e esperar inerte
Enquanto a falta devora a minha alma
E tudo ao redor me lembra de ti
E até os pequenos fatos não me deixam esquecer-te

Posso ser pra ti essa atriz, se quiseres
Pintar a cara e usar um grande nariz de palhaço
Fingir que acredito que não consegues estar com ninguém agora
Enquanto na verdade, estás em outros braços
Disfarçar a dor de te ver mentir
Tão descaradamente pra ti e pra mim

Posso fazer tudo isso se assim me pedires
Mas se bem te conheço
Não é esse teatro que faz você se apaixonar
Nem é esse ser fraco que fará você acordar
Pra tudo que estás pondo a perder

Mas mesmo que me peças tanta loucura
Teu olhar te entrega
E não me deixa manter o teatro
Tua saudade vem bater aqui na minha porta
Mostrando que não é assim que acaba nossa história
Será que tu enlouquecestes?
Será que não compreendes a decisão fria que tomastes?
Ou tu já sabes muito bem e sou eu mesma a tola,
que de tanto amor, aceito, idiota, ridícula, esse papel?

- Nina

*   *   *


Chega de tentar dissimular
E disfarcar e esconder
O que não dá mais pra ocultar
E eu não posso mais calar
Já que o brilho desse olhar foi traidor
E entregou o que você tentou conter
O que você não quis desabafar e me cortou

Chega de temer, chorar, sofrer
Sorrir, se dar, e se perder, e se achar
Que tudo aquilo que é viver,
Eu quero mais é me abrir
E que essa vida entre assim
Como se fosse o Sol
Desvirginando a madrugada
Quero sentir a dor dessa manhã
Nascendo, rompendo, rasgando,
E tomando meu corpo e então...
Eu... chorando, sofrendo, gostando, adorando
Gritando feito louca, alucinada e criança
Sentindo o meu amor se derramando

Não dá mais pra segurar
Explode coração ! ! !




(Composição: Gonzaguinha - de preferência na voz de Maria Bethânia)

*     *     *