quinta-feira, 17 de abril de 2008

O Julgamento e A Covardia

Quero escrever sobre o que eu senti. Senti-me acusada, desrespeitada, humilhada, inferiorizada. E deixei mais uma vez...
Por que ganhei a virada de rosto para o lado, os risinhos de superioridade e o silêncio em seguida? Silêncio tão insuportável, quase como se gritasse: ‘você é imatura demais para merecer que continue-se a discussão’.
Isso irrita, sim, irrita. Dá raiva, fere o orgulho. E há mágoa, como consequência. E quanto impotente não me sinto eu, diante de tal situação, em que qualquer coisa mais que eu diga será decretada como tolice. Se o silêncio já se fez, sou eu a tola que insiste em falar. Em que outra situação iria me sentir mais burra ou mais tola? Se tudo o que eu possa ter para dizer ou sentir não passa de baboseiras que não merecem ser ouvidas e tudo o que tenho para ouvir, não serei capaz de compreender?
Quão cruel e covarde é esta postura de superioridade. Como se só eu ainda tivesse algo a aprender ou só eu estivesse predisposta a errar. Que teste de paciência é esse que só termina quando a minha paciência se esgota e eu sou reprovada?
Por que não vale a minha própria opinião sobre meu estado de espírito? Que poder é esse de saber mais do que eu sobre meus próprios sentimentos? Provar-me que não estou enxergando algo (que nem sei se existe), pra quê?
A intenção seria me ajudar a perceber e me fazer bem? Nesse caso, não seria mais prudente uma atitude amorosa diante da raiva do que uma atitude desafiadora, que irrita mais a qualquer ser humano? Depois de tantos sofrimentos e tantos aprendizados, pra quê?
A dimensão que esse pouco toma em tão pequeno instante é tão grande... Quão cruel e covarde é essa violência velada, acusação feita nas entrelinhas de um sorriso. Dê-me logo um tapa na cara e doerá menos. Passa tão desapercebido, até mesmo da consciência do outro, que minha reação acaba por parecer loucura. E histeria seria, se eu guardasse mais uma vez no baú da sombra os sentimentos negativos. É grande a vontade de retrucar com a frase que tantas vezes ouvi e me fez chorar: ´O que eu fiz pra você?’
Situação tola, trazendo à tona sensação tão antiga, fazendo abrir a ferida tão profunda que já parecia tão cicatriz. Que dói logo no primeiro instante, por tanto ter se repetido silenciosamente. E tantas vezes me culpei sem perceber o quanto era julgada, quem sabe injustamente. E agora que me esforço para parar de julgar os outros, orgulhosa e egocêntrica como sou, não quero mais admitir que me julguem. E por que eu mereceria qualquer julgamento?
Essa postura de bondade, que tantas vezes usei de escudo, posso reconhecer de súbito. Quando sou acusada, sou somente um espelho. E quão difícil é impor a si as tais acusações que se faz...
Seria simples e bom, manter a atitude de olhar somente para os próprios sentimentos negativos e apontar menos os dos outros. Olhar no outro as qualidades e dar amor evita tantas mágoas. Eu não consegui manter minha atitude de carinho e amor e eis o que ganhei. Mais uma puxada de tapete da vida para que eu aprenda a ser mais humilde e doar mais de mim em vez de tanto querer receber.
Reservo para mim a covardia de não falar tudo isso ao vivo, utilizando essa forma tão impessoal e tão obviamente direcionada. Reservo para mim a covardia de julgar e acusar com todas as letras enquanto disserto sobre o quanto isso é injusto. Em outros tempos, engoliria tudo e ficaria com a disenteria, me proibindo o direito de errar.




-Nina

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Um comentário:

Flávia Esper disse...

O que aconteceu, querida?
Estou aqui se quiser conversar.
Beijo enorme e abraço carinhoso.