Descobri caminhos novos, e doeu. Ah, meu amor, e como doeu. E vejo agora você, coitado, pensando tão empobrecido, sem rumo, sem sonho. E vejo agora meus olhos no espelho. E ainda te vejo neles, meu amor. Mas sabe o que mais vejo? Vejo o brilho da vida, o dom de amar, a vontade de sonhar e voar muito mais alto... E um profundo, intenso e generoso respeito por toda essa nossa humanidade.
E eterna amante que sou, meu amor, não deixarei nunca de te amar. Como nunca deixei de amar cada um que passou por aqui e levou de mim um pedaço. Como fui me dando assim, aos pedaços? Não poderia mesmo ficar inteira. Mas o coração regenera, meu amor, oh, sim, disso tenho certeza... E o vento traz a boa nova, só você não vê. Seu coração não regenerou porque você não deixa. Não deixa que ninguém mais chegue perto. Não cuida, não faz curativo.
Sinto muito. Mas eu sinto muito mesmo, sinto com tudo que minha alma permite sentir. E sentir é uma benção. E choro sua dor ao mesmo tempo que choro a minha. Porque seus olhos também brilham, mas você teima em apagar o fogo. E vai deixando ficar esse engodo, esse lodo, essa lama, essa trama de falsas certezas. Vai se afogar, meu amor, oh, céus, e eu quis tanto te jogar uma bóia. Tola, achei que te salvaria.
Mas tudo bem, agora já entendo bem. Você não sabe mesmo nadar e o mar te engoliu, e continua a te afogar e te puxar pro fundo. E eu, apesar dos nervos de aço, não tenho superpoderes. Como posso continuar ao teu lado, se me drenas pra baixo? Talvez precises mesmo disso, ir ao inferno e enfim, desejar voltar à superfície.
Meu tesouro na vida foi descobrir minha Perséfone. Na magnitude do Silêncio, no abraço das Sombras, na paz da Solidão. Vai e descobre a tua.
-Nina
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