Rita chegou em casa se dissolvendo. Ela queria muito ter dito a ele seu desejo, mas teve receio de estar sendo egoísta demais. Ele poderia ter subido com ela naquele elevador. Poderiam ter dividido a noite, mas teve receio.
Como pedir a ele que deixasse seus planos, que fizesse um sacrifício a mais só para realizar-lhe um capricho? Isso parecia errado. Parecia que iria tirar dele o livre arbítrio e colocá-lo numa situação constrangedora, onde não caberia o não. Engoliu o desejo, calou-se e ele se foi. Naquela noite, ela estava frágil. Especialmente naquela noite, ela queria ter sido mimada outra vez e ter pedido com sinceridade o que seu coração tanto desejava.
Será que seria mesmo um sacrifício? Será que estaria errada em dizer o desejo que sentia? Sentiu-se boba, frágil e carente. Talvez fosse o orgulho. Ela não queria mais ser frágil. Mas de que adianta, se o coração demora para se adaptar a isso?
Mais uma vez, Rita se deu conta do vazio que sente, do medo da solidão, de sua ainda presente imaturidade. Ela se deu conta do quanto ainda precisa do valor que alguém lhe dá para sentir-se plena. E porque não deixar que aconteça? Porque precisaria ser madura o tempo todo? E pensou nas razões que a faziam se dissolver tão facilmente. E pensou no quanto se proibia de ser também menina. E que consciência era aquela que lhe trazia tanta rigidez e... dor. Talvez estivesse faltando seu próprio respeito pelo seu coração. Talvez estivesse precisando aprender a ser menos dura consigo, largar as rédeas e aceitar o acolhimento que tanto queria.
Uma vez, lera uma frase com a qual se identificou muito: "tudo o que queria agora era me perder nos seus braços, sentir sua mão carinhosa nos meus cabelos e chorar sem medo nem culpa." Em momentos como aquele, era o que Rita realmente queria. Mas foi impossível pedir.
-Nina
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